
Cheguei em Paraíso de madrugada e desta vez fui sozinho e de ônibus. Mais seguro, mas menos engraçado. Fiquei em um hotel na beira da estrada. Isso quer dizer que dormir era apenas uma vontade necessária. Milhões de carros, caminhões, motos e tudo que tinha roda passava em frente ao meu quarto. Uma noite e tanto! Um dia antes, percebi que estava ficando sem voz. Acordei completamente rouco e louco da vida por saber que tinha um show e com as pregas vocais comprometidas, tudo seria bem mais complicado. Como contei aqui antes, fiquei sem dormir e passei muito frio até Lavras do Sul. Tinha a impressão que com o timbre que estava poderia ser o vocalista do Sepultura. Para piorar, neste show não contei com nenhum parceiro. Precisava cantar e tocar o tempo inteiro sozinho. Cheguei cedinho na escola Afonso Pena enfeitada para a sua Feira de Livro. Percebi que estava num lugar diferente. Danças tradicionais, teatro, músicas da região e tudo mais. A colonização desta cidade é Alemã. Como faltava algum tempo para a minha apresentação, resolvi dar uma volta pela cidade. Às 8:30 eu já andava curioso pelas ruas, registrando e filmando tudo. Acho importante fazer um registro pessoal dos lugares em que vou para tocar. Gosto de olhar e me lembrar de cada detalhe. Depois,quando cheguei na escola rapidinho chegou a minha vez. Subi no palco e na primeira palavra que falei no microfone a minha voz saiu parecida com a do Robocop! Um horror! Para ajudar o som não estava bom e para piorar ainda mais, o show era no pátio. Confesso que senti medo! Quando prestei mais atenção no público observei que a maioria das pessoas eram adolescentes. Pânico! Tenso! Como que eu poderia perguntar para adolescentes se eles gostavam de pirulito ou picolé?! Para quem está me lendo pela primeira vez, o espetáculo Fé e Pé começa com esta pergunta: quem gosta de pirulito? Quem gosta de picolé? Quem é meu amigo?... Para o meu total espanto, os adolescentes que estavam lá eram maduros. Não escutei nenhuma risadinha, nem piadinha e nem nada! Todos brincavam como se fossem crianças! Até um trem se formou e todos entenderam o propósito da Zuando Som . Um luxo! No final, tiramos uma foto incrível! Todos me deram muita atenção. Inacreditável! Algo que só é possível em cidades pequenas. Lugares que preservam as suas raízes e respeitam seus visitantes. Eu chamo isso de educação no sentido mais amplo que esta palavra possa ter. No show da tarde, me senti tranquilo. Muitas crianças e tudo dentro da normalidade não fosse a voz parecida com a de um Ogro. Obrigado Paraíso do Sul! Espero retornar com a minha voz e com o parceiro Rafael Ferri para cantar e contar muitas outras canções.
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