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domingo, agosto 19, 2012

A vida no passado







Fui tocar em Manoel Viana e consegui fazer uma visitinha em mim mesmo. Vou explicar: como já comentei aqui algumas vezes, eu nasci na cidade de Alegrete. Até os 16 anos eu acreditava que seria um poeta de verdade. Meu super herói preferido era o Mário Quintana. Fugia das aulas das exatas e me escondia na biblioteca da Escola Estadual Oswaldo Aranha e do Centro Cultural da cidade para ler o que viesse pela frente. Não era um rato de biblioteca, era um curioso. Lia a esmo e descobri Machado de Assis, Fernando Pessoa, Manuel Bandeira e claro, Mário Quintana. Quando me deparei com a cidade depois de quinze anos, levei um baita susto. A cidade continua bem parecida com o que era, mas eu mudei. E isso me assustou! Não sei se deveria ter ido fundo e como sempre, fui! Resolvi visitar as casas em que morei, lembranças das avós, de um avô que era fazendeiro e do outro que tinha uma churrascaria.  A vida nos da de presente as lembranças para que elas façam parte do passado. Sem essa de nostalgia. Caminhar pelas ruas e enxergar o guri que pintava os cabelos de vermelho cheio de sonhos e planos para conquistar o mundo, não foi tranquilo. Algo em mim fechava os meus olhos me proibindo de ver. Tirei fotos, centenas delas. Mais tarde, quando fui espiar  detalhadamente, entendi melhor o que consegui fazer da vida e o que não consegui. Não sou aquele gaúcho que solta o Sapucai, que anda de bombacha ou que desfila de cavalo pelas cidades reverenciando as raízes. Porém, não sou menos gaúcho que estes. Tenho este carinho pela cidade, pois morei nela. Conheço o seu cheiro, seus hábitos, a linguagem peculiar, seus campos, suas praças, o barulho do trem, ruas, rios, pontes, monumentos, escolas, bibliotecas... Foi ótimo e difícil voltar. Descobri que tenho mais coragem do que pensava. Rever o que passou interessa somente aos que não temem o futuro. Voltei mais maduro e inclinado a redescobrir coisas que estão adormecidas em mim. Não estão mortas! Viverão pra sempre no meu agitado coração e olha que, até ele que achei ter se aquietado, ainda me apronta cada uma. Ao final da viagem percebi que a máquina fotográfica acusava  "memória cheia". Foi aí que decidi retornar à minha cidade atual. As minhas memórias também já estavam no limite.  

"O Velho dos Cabelos de Mola" já vendeu 2.000 livros em cinco meses. Um sucesso! Em Manoel Viana fizemos uma festa bonita no auditório e no pátio da escola. Incrível! Obrigado! 




Um comentário:

  1. Grande Digão... sei bem o que tu sentiu, são as raízes que nada apaga, abraço .

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