Para viver dependemos do trabalho, mas trabalho não quer dizer esforço físico. Escuto sem muita paciência os discursos equivocados que relacionam suor com dignidade financeira. Quando comento com as pessoas que faço canções infantis é comum ouvir que isso não é profissão. O discurso é sempre o mesmo, músico vive de maneira complicada, esse negócio de ser artista é pura vaidade, tem muita gente fazendo e você não vai conseguir nada com isso. Tenho muitos amigos que realmente desistiram. Assim como tenho outros que vivem de maneira satisfatória da sua arte. Talvez a coisa mais importante que a Web nos deu tenha sido a independência. Hoje podemos publicar as nossas canções, textos e ideias sobre a vida sem a pretensão de virar pop star e com a possibilidade de ganhar dinheiro com isso. Estamos sofrendo um processo de mutação nas profissões. Hoje, muitos são massoterapeutas, professores de Yoga, terapeutas florais, pintores, músicos, poetas e recebem muitas vezes bem para realizarem o que gostam. Fico incrédulo quando escuto de pessoas que considero esclarecidas, que as profissões relevantes são somente aquelas em que as pessoas ficam de camisa ou terno o dia inteiro. Não considero a minha profissão melhor do que a de ninguém, mas também não é pior. Combinei comigo mesmo ser menos tolerante ainda com os ignorantes. Aqueles que ignoram a arte devem ser ignorados pelos artistas. Não adianta procurar um médico se não creio que ele possa ajudar em alguma coisa. Não adianta tomar florais se acho impossível que isso faça sentido. Observo que muitos se divertem com a arte, sem perceber que o objeto da sua diversão quem fabrica é o artista. Todos devem ser respeitados. Somos seres sensíveis, humanos e preferimos o amor. Se a criatura é artista, deixa! Se é dentista, deixa ser dentista! Coisa feia é a falta de tolerância! Alguns pais sentem medo que o filho sofra ao escolher a arte como profissão e por isso, cercam-se de opiniões recheadas de frases prontas que estão por aí. Tenho a impressão que descobriram a imortalidade nas suas maravilhosas profissões. Todos respeitadíssimos pela sociedade. Sim, a mesma sociedade que queima mendigos, que usa máscara do Joaquim Barbosa e do Capitão Nascimento no Carnaval, que anda de carrão devendo todas as prestações para a financeira, que combate o tráfico com armas ou que presenteia crianças com arminhas de brinquedo. Realmente senhores, somos um tipo estranho mesmo. Cantamos, dançamos, poetamos, nos exibimos em palcos, praças, choramos por amor e ainda ganhamos dinheiro com isso. Não usamos fantasia para viver. Nossa vida é um palco. Artista é tudo vagabundo mesmo.
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